quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Quando chega a Tristeza

como a inesperada visita de um parente
eis que me chega a tristeza
velhos conhecidos, não nos víamos há algum tempo
salvo algumas ligações por telefone

de imediato tratamos de colocar as novidades em dia
disse que queria me ver, que inclusive tentou pegar várias conduções
mas a sorte sempre atrapalhava a sua vinda.
e que quando tentou vir de avião,
acharam um pouco de esperança em sua bagagem
o que a impediu de viajar, pois foi detida

disse também que andava ocupada demais com novos afazeres
e que tinha sido vítima de tentativa de assassinato, mas não morreu
pois como dizia o poeta: tristeza não tem fim...

resolvemos sair um pouco e tomar um ar
em meio a fumaça cinzenta da cidade andávamos calmamente
o tempo estava fechado, um clima nebuloso e eu sentia que
algo de estranho estava pra acontecer
o susto foi grande quando subitamente um automóvel desgovernado invadiu
a calçada e esmagou um sujeito contra o imenso muro pardo
depois viemos saber que quem estava no volante era a ignorância
e, por falta de atenção, dirigindo sua cólera modelo 2005
matou ninguém menos que a paixão.
então a tristeza foi de encontro aos parentes da paixão e me deixou ali

logo veio a solidão, velha conhecida, silenciosa como sempre, mal me cumprimentou
seguimos em frente deixando a tristeza no local do acidente

percorremos um longo trajeto sem nem uma palavra trocada
ela não falava, e quando eu falava, tinha a nítida impressão de estar falando sozinho
o tempo foi passando....
acenei a mão e o cumprimentei de longe, parabenizando-o por sua precisão e onipresença
mas ele não gosta muito de mim, deve ser pela minha amizade com o atraso.
somos amigos de infância, de andar junto e tudo mais.

chegamos enfim ao centro da cidade e a solidão foi se embora
bem na hora que chegou a embriaguez
é sempre assim, quando uma chega a outra vai embora
somos grandes amigos, contei a ela que tinha alguns problemas
e então resolvemos ir a um bar.
depois de muita conversa ela me pediu para expor os tais problemas
disse que pegaria um pouco pra ela mas assim que fosse embora
mandaria a ressaca devolve-los para mim.

quando saímos do bar, abraçados e cantando, já estava escuro.
disse a ela que tinha medo de encontrar a tristeza no caminho de volta pra casa
então ela me fez acreditar que aquilo era besteira, e que dormiria comigo naquela noite
bom, já estava acompanhado. além do mais a embriaguez é gostosa.

acordei no começo da tarde do dia seguinte dia com batidos estrondosos na minha porta
notei claramente que a embriaguez tinha ido embora enquanto eu dormia
me levanto sonolento e cambaleando. então abro a maldita porta da minha casa
e me deparo com a terrível ressaca com sua típica grosseria que chegava a me dar socos na cabeça
custei a entender que ela além de trazer os problemas de volta que a embriaguez tinha levado,
iria passar o dia comigo. e ela é muito chata.

bateram na porta novamente, que era? a tristeza
então passei a tarde com a ressaca e a tristeza jogando paciência
quando chegou a noite, a ressaca já tinha ido embora e a tristeza já tava me enchendo o saco
não deixei a tristeza atender o telefone que tocou
ao atender era a surpresa, e eu já tava com saudade dessa danada que ha tempos não dava as caras.
disse que ia ter uma festa na casa da alegria e que todo mundo iria:
a sorte, a paixão (não, ela não morreu, se recuperou do acidente), a liberdade, o tesão, a fartura,
e toda a galera da pesada. só gente boa.
e que ainda, a embriaguez iria financiar toda a bebida pra moçada

não tive dúvida. tranquei a tristeza em casa e fui pra festa da alegria.

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