segunda-feira, 12 de março de 2012

Vinte e três e vinte cinco

As notas dos meus sonhos ja não são as mesmas
se confundem com amareladas ondas
de sol que reverberam pela manhã
sua doce voz no quintal da minha mente
vem me falar quase em sussurro que é pra dar um jeito

se afasta a cada suspiro, a cada gole de futuro
o vermelho esmalte de uma noite incompleta
instigante em seu próprio ponto de vista
porém vaga no que se pode esperar do horizonte

como uma agulha rodando no final do disco,
sua imagem insistente invade a tela,
sua sombra entorna no chão do meu quarto
e evapora lentamente a medida que me desperto

cacos de lembranças se misturam aos vidros de sangue
e as dores de suor sobem junto ao vapor da noite
as marcas ainda estão lá, em cada lugar,
como se não fossem mais sair
do vermelho esmalte, refletido em meus olhos

domingo, 8 de março de 2009

Um dos lados


Antes de sair de casa me despedi daquele homem
que nunca me olhara nos olhos mas estava alí sabe lá o motivo
Embora muitas vezes ele me dizia o porque de tudo aquilo
Há quilos de boas intenções nas frestas das janelas
até daquelas que sempre ficaram quietas, que nada viram
Outras viram e viraram para outros lados desgastados

Queiram calos me acusar de batidas insólitas?
Pudera a luz revelar o que nunca escureceu de vez?
As vezes das fusões que às vezes eram estusiásticas
queimaram como mínimos filmes sensíves em minha retina

Tranquilo em meu limbo a campainha me atormenta
O tal homem veio me cobrar, mas estava lá minha dignidade
tente se esconder, tente correr, de nada adianta
cara-a-cara, enfrentar é a única e tênue saída

Pela velocidade do vento e o rugir destes bêcos,
suspeito que "facilidade" seja apenas uma palavra irônica
e que, evolução, seja justamente o resultado de todas enegias
que constantemente vieram de várias fontes e se concentraram na retina
dando visão ao desconhecido ignorado insesantemente pela rotina
trazendo novas possiblidades e fazendo do dia, uma partida.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Pazenda


computadores fazem arte, pessoas fazem parte
"bem que minha mãe falou que eu devia mexer era com vaca"
vista cansada, sedentarismo, enxaquecas e pane no sistema nervoso
contra tranqüilidade, harmonia, paz e músicas da natureza
acordar cedo, tomar leite no curral, arar a terra, plantar
almoçar frango caipira, descansar na rede, tomar água da bica
correr pelo pomar, comer laranja do pé, pescar no fim de tarde
talhar um graveto, mascar capim, pontear a viola ao pôr do sol
beijar as folhas, varrer o terreiro, conversar com as plantas
escrever poesias escorado na sucupira, acender fogueira
contar estórias de terror, cozinhar no fogão de lenha
tomar uma amarelinha, picar fumo de rolo, andar descalço na terra
pular do trapiche, ligar a lamparina, catar louro no pasto
deitar na grama, sujar as mão de terra, nadar nu à noite
olhar as estrelas, ouvir os pássaros, reformar a cerca
marretar o moirão, coar café no bule, bater manteiga do leite
arrear cavalo brabo, viver...
e ainda tem gente que diz que a vida no campo é tediosa
.

Sem Título


Não é sem tempo, não é imagem
são demais os perigos da vida
sonhos impossíveis talhados
pela possibilidade de acontecer
acabarás com o brilho intenso
em seus olhos...
não olharei mais
desespero
afinal nada posso esperar

.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Da janela de cima


O azul celeste refletido em sua impensável dimensão enquadrado na janela de alumínio conecta minha alma a um futuro nada imediato porém com um gosto suave da certeza. O vapor sobe enquanto um feixe de luz parece transcender sua pele macia e nua. Livre, minha mente viaja mais de mil quilômetros na velocidade da luz passando daquela nuvem branca em ângulo nulo logo acima de nossos corpos para o sul de meus conhecimentos e onde te encontro com um sorriso e um brilho nos olhos, brilho da fogueira na areia, brilho do fogo queimando mágoas, dançando ao som do violão e dançando no ritmo das ondas, ambos embalados pela brisa noturna, pois já não é mais dia. Agora mesmo amanhece, o fogo volta para o céu e com ele nascem sonhos e a incerteza do deslumbramento humano com a possibilidade de que o mundo possa existir além da nossa percepção habitual.




Negra Estrada


Até a hora de passar
sombras perambulado pela madrugada
lentamente engolindo pregos
lágrimas escorrem pela calçada
garrafas voam e o corpo ao chão


Não meu amor, não !!


Não meu amor, eu lhe peço !!
não me derrube da sacada
minha mente já está acostumada
você em um simples relance
vira a mesa e quebra o copo
o copo que estava cheio
denso e triste o líquido escorre
como lágrimas sujas inundam o chão
Mas lhe peço novamente
não apague a vela na mesa
eu já não sei mais tecer esse forro
com as linhas que construimos juntos
pouco a pouco cada dia mais
e que num simples tremor toca fogo
em minha pretenção
chorosas cinzas pairam no ar

Outra vez lhe imploro, não bata a porta na minha cara, não
desse modo... sem tentar me olhar, perceber meu rosto, antes sereno, agora tingido de sangue pela pancada, ferido pela dura tonelada da porta. Que é a porta dos fundos, nunca a de entrada.