quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Da janela de cima


O azul celeste refletido em sua impensável dimensão enquadrado na janela de alumínio conecta minha alma a um futuro nada imediato porém com um gosto suave da certeza. O vapor sobe enquanto um feixe de luz parece transcender sua pele macia e nua. Livre, minha mente viaja mais de mil quilômetros na velocidade da luz passando daquela nuvem branca em ângulo nulo logo acima de nossos corpos para o sul de meus conhecimentos e onde te encontro com um sorriso e um brilho nos olhos, brilho da fogueira na areia, brilho do fogo queimando mágoas, dançando ao som do violão e dançando no ritmo das ondas, ambos embalados pela brisa noturna, pois já não é mais dia. Agora mesmo amanhece, o fogo volta para o céu e com ele nascem sonhos e a incerteza do deslumbramento humano com a possibilidade de que o mundo possa existir além da nossa percepção habitual.




Negra Estrada


Até a hora de passar
sombras perambulado pela madrugada
lentamente engolindo pregos
lágrimas escorrem pela calçada
garrafas voam e o corpo ao chão


Não meu amor, não !!


Não meu amor, eu lhe peço !!
não me derrube da sacada
minha mente já está acostumada
você em um simples relance
vira a mesa e quebra o copo
o copo que estava cheio
denso e triste o líquido escorre
como lágrimas sujas inundam o chão
Mas lhe peço novamente
não apague a vela na mesa
eu já não sei mais tecer esse forro
com as linhas que construimos juntos
pouco a pouco cada dia mais
e que num simples tremor toca fogo
em minha pretenção
chorosas cinzas pairam no ar

Outra vez lhe imploro, não bata a porta na minha cara, não
desse modo... sem tentar me olhar, perceber meu rosto, antes sereno, agora tingido de sangue pela pancada, ferido pela dura tonelada da porta. Que é a porta dos fundos, nunca a de entrada.

da porta pra dentro



Do sonho permanece

almas claras quiçá livres

o que o sol vem recompor

redobrada inquietude nublada

seu calor acalma o frio de minha agonia

sua presença me faz não querer um sinal

o toque de sua pele e seu cheiro único

me leva a horizontes nada convencionais

e no calor de seus lábios diversos

beijo as nuvens, abraço o infinito

Nova Estranha Etapa

Um raio de sol invade a fresta da janela
Macauã toca no fundo das idéias
repentinamente o grito da coruja
afasta as imagens de conforto

a verdade se esconde debaixo do chão
um dia com energias acumuladas sairá
e então seremos nós mesmos
sem ídolos com pés de barro

sinto que esta travessia me leva
e com mãos feridas me agarro a este sonho
fazendo dele o meu também
mas o que acontecerá se assim continuar?

Sol na Noite


em meio à chuva
de úmidos suspiros
ontem à noite
você me fez sol

Quando chega a Tristeza

como a inesperada visita de um parente
eis que me chega a tristeza
velhos conhecidos, não nos víamos há algum tempo
salvo algumas ligações por telefone

de imediato tratamos de colocar as novidades em dia
disse que queria me ver, que inclusive tentou pegar várias conduções
mas a sorte sempre atrapalhava a sua vinda.
e que quando tentou vir de avião,
acharam um pouco de esperança em sua bagagem
o que a impediu de viajar, pois foi detida

disse também que andava ocupada demais com novos afazeres
e que tinha sido vítima de tentativa de assassinato, mas não morreu
pois como dizia o poeta: tristeza não tem fim...

resolvemos sair um pouco e tomar um ar
em meio a fumaça cinzenta da cidade andávamos calmamente
o tempo estava fechado, um clima nebuloso e eu sentia que
algo de estranho estava pra acontecer
o susto foi grande quando subitamente um automóvel desgovernado invadiu
a calçada e esmagou um sujeito contra o imenso muro pardo
depois viemos saber que quem estava no volante era a ignorância
e, por falta de atenção, dirigindo sua cólera modelo 2005
matou ninguém menos que a paixão.
então a tristeza foi de encontro aos parentes da paixão e me deixou ali

logo veio a solidão, velha conhecida, silenciosa como sempre, mal me cumprimentou
seguimos em frente deixando a tristeza no local do acidente

percorremos um longo trajeto sem nem uma palavra trocada
ela não falava, e quando eu falava, tinha a nítida impressão de estar falando sozinho
o tempo foi passando....
acenei a mão e o cumprimentei de longe, parabenizando-o por sua precisão e onipresença
mas ele não gosta muito de mim, deve ser pela minha amizade com o atraso.
somos amigos de infância, de andar junto e tudo mais.

chegamos enfim ao centro da cidade e a solidão foi se embora
bem na hora que chegou a embriaguez
é sempre assim, quando uma chega a outra vai embora
somos grandes amigos, contei a ela que tinha alguns problemas
e então resolvemos ir a um bar.
depois de muita conversa ela me pediu para expor os tais problemas
disse que pegaria um pouco pra ela mas assim que fosse embora
mandaria a ressaca devolve-los para mim.

quando saímos do bar, abraçados e cantando, já estava escuro.
disse a ela que tinha medo de encontrar a tristeza no caminho de volta pra casa
então ela me fez acreditar que aquilo era besteira, e que dormiria comigo naquela noite
bom, já estava acompanhado. além do mais a embriaguez é gostosa.

acordei no começo da tarde do dia seguinte dia com batidos estrondosos na minha porta
notei claramente que a embriaguez tinha ido embora enquanto eu dormia
me levanto sonolento e cambaleando. então abro a maldita porta da minha casa
e me deparo com a terrível ressaca com sua típica grosseria que chegava a me dar socos na cabeça
custei a entender que ela além de trazer os problemas de volta que a embriaguez tinha levado,
iria passar o dia comigo. e ela é muito chata.

bateram na porta novamente, que era? a tristeza
então passei a tarde com a ressaca e a tristeza jogando paciência
quando chegou a noite, a ressaca já tinha ido embora e a tristeza já tava me enchendo o saco
não deixei a tristeza atender o telefone que tocou
ao atender era a surpresa, e eu já tava com saudade dessa danada que ha tempos não dava as caras.
disse que ia ter uma festa na casa da alegria e que todo mundo iria:
a sorte, a paixão (não, ela não morreu, se recuperou do acidente), a liberdade, o tesão, a fartura,
e toda a galera da pesada. só gente boa.
e que ainda, a embriaguez iria financiar toda a bebida pra moçada

não tive dúvida. tranquei a tristeza em casa e fui pra festa da alegria.

Cativeiro


do meu cativeiro
é o que vejo
árvores e folhas o tempo todo
água passa vento leva
mais um esforço pra manter a grade
sua ausência me induz transbordar
desanuviar pra continuar
pois impede a chegada da razão
então aguardo ansiosamente sua chegada
falta de opção ? também pudera.
minha calmaria à mil por hora
e uma realidade em outra escala
doses de cansaço
e areia ruindo
mais uma dessa
e eu me vou

Índice apagado...preâmbulo rasgado


às vezes é tão estranho
pedaço do preambulo quente arrancado à amargas lágrimas frias
vibrante porém emudecido pela carregada nuvem de angústia
auto piedoso em seu próprio confinamento mas totalmente silenciado
tão verdadeiro como a influência da lua nas marés
e tão forte quanto a corretenza
ardente que segue em minhas artérias

o temporal opressor não se importa
vai levando tudo
e preso àquela pedra branca de sonho
uma gota resiste, pois não é uma gota
e sim um lago ou quem sabe um rio
que seguiria desaguando no oceano
por todo aquele caminho de galhos
por todo aquele caminho de girassóis

na sequência diária de incontáveis crepúsculos
perderei a conta de quantas vezes esperarei o sol nascer
e durante este nebuloso período não sairá de vista minha estrela
por mais que o temporal tente ocultá-la, ela continuará brilhando
por mais que ela se afaste de mim, tenho sua energia em minha alma
e esta energia me dá a força para suportar sua dolorosa despedida

sigo meu caminho
e carrego em minha bagagem
uma história feita de acaso e destino
que nasceu na beira de um manancial de palavras
remou pelos parágrafos inebriantes do coração
e chegou ao porto de solidão
no cais de algum lugar
sem um ponto final




Entre Muros


Não pelo dinheiro, sim pela coragem questionada
levou ao chão um corpo de quinze anos
provando que a precisão foi tanta que a bala varou
Suor, gemidos, pavor.
Não se pode compreender absolutamente nada.
Saiu pelos fundos emergindo de vários bêcos,
uma hora seria visto
Toda noite sem jantar a vida lhe jantava
Atirava no Sol
Lá ele ficava cada vez mais e mais e mais
De súbito levantava e saía à procura de algo pra comer
Mesmo que significasse sangue, dor;
entretanto não teria diferença alguma
pois sobrevive isso.
Dentro dele não havia luz alguma
pois fora roubada séculos e séculos atrás
Assim na noite ele se foi.


In Tenso

.

Não me contento com virações

Séculos de minutos se fizeram esquecer

avante, uma vez mais se fez por passado

enfim, te encontrei meu grande amor

.

Não sei o que se passa, não quero questionar


não sei o que se passa
prefiro nem questionar
mas lembrar da febril calmaria em seus olhos
que inevitavelmente entrega paz à minha alma
noite mística regada à tinto
como num delírio lúcido pude sentir todo seu calor

porém hoje posso sentir o frio de longe
não gosto desse gelo
portanto prefiro me distanciar
não sei o que se passa
também prefiro não questionar

talvez o tempo possa derreter
e depois de um tanto d`água
talvez meus olhos possam novamente
aquecer o seu dia, sua alma
enquanto isso
não sei o que se passa
por fim prefiro não questionar
.

Oras Horas


Ansiedade, Inquietude tensa
Outras horas nem tanto
Mas quando você me olha
vou ao paraíso.
.

D.A.T.A.


Em expressivas pitadas desconcertantes e atraentes
minha data corre altíssima barreira sonora quebrada
em graves pisões casuais para depois encontrar me
diante de meu holograma.

A cada segundo transportado para o mesmo lugar
minha alma está na voltagem errada esperando
um elétron errante aglutinar se ao meu sistema
eletrohurte então mudar a direção nunca sentido.


Então começa tudo, daqui pra semana que vem,
ano que vem minuto que vem curto circuito
...alfa ativo...

Eclipse




raros olhos negros como eclipse

profundos e intensos sonham a madrugada

uma e meia da tarde

mas você possui a madrugada em seus olhos

profunda e intensa madrugada sonham meus

olhos fixos febris fitam intensos

transparentes parecem emergir do meio do oceano

navego em seus olhos como a madrugada

perdida à deriva de uma casual aurora

que vem desaparecer

o eclipse de seus olhos

Lua


Apesar da escuridão noturna você me aparece
de repente à luz do luar,
Lua crescente lhe abracei
Lua nova beijei....
Seus felinos olhos me fitavam no clarão
Sentia o reflexo da lua na água em seu beijo
Lua cheia lhe amei
O vapor de sua respiração me alucinava
Inebriado em seu corpo senti o calor do universo
Me senti parte do vento, do luar, de você
Lua minguante sonhavaapenas sonhava
Acordei e não havia lua no céu
somente a escuridão
Não havia lua
Não havia você





Visita

O peso do ar escurece o ambiente
partículas agitadas em turbulencia elevada
remontam um choque de idéias que remetem à recente ida
não posso tentar salvar o que não há resgate
adormecida agonia agora aparece de sobra
em direções opostas que fazem irem de encontro
a tudo que me embaça o fluxo de consciência
em meio ao turbilhão de sentimentos consigo detectar
apenas a saudade de coisas que não existem mais
espero pelo pior, mas com cabeça levantada
retenho me a pensamentos do passado
mas acredito no futuro
só o tempo vai poder me dizer
enquanto ele não me diz nada
fico com a poesia
dolorosa e fria
porém viva...